31 de março de 2009

Zush Tarot


Porta-Zush-Evru/Ivlod, 2006.


Tem gente que diz que o Tarot é brega. Dá até pra entender... A cartomante e sua bola de cristal (de vidro), o anúncio no portão de casa com erros de português, as mesmas frases feitas (de efeito), enfim, a leitura de cartas tem essa cara desde que nos entendemos por gente. A televisão, essa divulgadora de "cultura", se esmera em perpetuar o lance. Nada contra o popular, grande manancial de loucuras, mas a postura dos meios de comunicação deixa tudo ainda mais caricato. Além do que não se deve confundir o Tarot, conjunto de cartas, com o uso que se faz dele.

Quando comecei com essa parada de estudar o Tarot (ó ignonímia, ó infâmia), meus amigos intelectuais, escritores e artistas, torciam o canto da boca, pra lá de bestas. Na Universidade então, nem se fala: -"Lá vai a louca do Tarot. Sim, porque além do gosto duvidoso, ainda não bate bem da bola", era isso mesmo o que pensavam. Bem, depois de um tempo passaram a rever este ponto de vista, creio. Durante os três anos que passei na pós-graduação, dando aulas e participando de congressos e seminários, muita gente descobriu do que se tratava o Tarot: uma máquina narrativa, uma galeria de imagens inigualável, um arcabouço aberto para o estímulo imaginativo. E do que trata a Arte, senão da imaginação?

E o que dizer de caras como o cineasta Alejandro Jodorowsky, o artista plástico Xul Solar, o poeta T.S. Elliot, o escritor Italo Calvino? Aí, então, a coisa muda radicalmente de figura. Dizem os pseudo-doutos: -"Se eles gostam, bem..." Ah, a ignorância esnobe é mãe de todos os males. E faz parte da nossa cruzada tarológica indicar o Tarot e revalidá-lo como um sistema de linguagem universal, muito além da prática divinatória - que também é importante, embora não baste para esgotar seu enorme poder catalisador.

Todo esse tre-le-lé porque achei outra figura incrível que trabalhou o Tarot numa etapa da sua trajetória: o artista espanhol Zush, de batismo Albert Porta, e que em 2001 trocou seu nome para Evru. Esse catalão-camaleão que já inventava moda em 1964 foi pego com substância ilegais em 1968 e conduzido a um hospital psquiátrico. É ali que muda seu nome para Zush, palavra sussurrada por um colega do Frenopático de Barcelona, e cria sua primeira exposição individual, "Alucinações", que já continha sementes da sua simbologia e iconografia, posteriormente desenvolvidas. Na década de 70, Zush apresenta obras significativas e de grande formato : De Jude a Nasha, onde figuras de silhuetas femininas realizadas com spray destacam pontos ou centros que, unidos, formam uma classe de constelações eróticas flutuando em espaços vazios. Essa "sexologia astral" terá como base iconográfica as cartas do Tarot que o artista converterá em referência capital de sua própria simbologia, "em seu constante questionamento da arbitrariedade que existe em toda linguagem", como traduzi de um artigo da Fundação Suñol, que agrega a maior parte das obras de Porta-Zush-Evru.

Procurei onde pude mais referências visuais, em especial as que concernem ao Tarot, e encontrei os seguintes conjuntos de lâminas:













E agora, com uma lente de aumento, vou brincar de identificar os rastros do nosso Tarot cruzadas com simbologia e iconografia individual de Zush. Outro dia, mais notícias.

Zoe
Links para conhecer melhor o trabalho do artista:
Tecura
Galeria Fernando la Torre

3 comentários:

Leo Chioda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leo Chioda disse...

Uau, super! Adorei. Você descobrindo os espanhóis e eu os italianos: Fornasetti é duca. Vou caçar mais selos, pode deixar. Saudades também. Beijo!

Juliana Vermelho Martins disse...

Oi!

Também acho que o Tarot é arte. Em parte :-)
(estou para fazer trovinhas hoje, pelo jeito...).

E convivo com os olhares nunca neutros de quem sabe que eu me interesso, estudo um pouquinho, o Tarot: espanto, incredulidade, riso e até comiseração. Faz parte!

Bom saber de uma taróloga em Curitiba! Vou acompanhar o blog. Talvez um dia apareça para uma consulta!